quarta-feira, 13 de agosto de 2008

ciclos

CICLOS

Vejo, com certo prazer, folhas secas de abacateiros e araticuns na calçada. Piso nelas com a intenção de ouvir o som único e intraduzível da metamorfose das folhas em fragmentos de vida que se incorporarão ao solo. Uma palavra surge na minha mente: ciclos. O que seríamos sem os ciclos todos que cerceiam nossas vidas?
Tal como aquelas folhas mortas, sentimentos nascem, crescem, amadurecem e morrem. Alguns, mesmo que mortos, permanecem nas lembranças de quem os viveu. O poeta grava na memória o cair lento das folhas quando o vento decide, mesmo sob a tênue forma de brisa, transformar a morte em ballet de folhas amareladas.
Nossas realizações pessoais também possuem ciclos. Do sonho surge o projeto e do projeto nascem as realizações. Só é necessário possuir tenacidade para esperar o tempo certo para a coisa certa.
Se alguém me questionasse sobre qual seria a tristeza mais pungente que afetaria meu espírito, eis a resposta pronta: ver ciclos incompletos, sonhos não realizados, projetos apenas no papel, colares desfeitos ao longo dos caminhos.
Se nascemos, vamos morrer, isso é certo. Se as forças poderosas nos permitem projetar sonhos é porque, em algum tempo e espaço, a realização vai ser completa. Fechemos as figuras geométricas. Tudo que tem começo, obrigatoriamente precisa ter fim. Todas as nossas angústias nascem de abortos abruptos de nossas íntimas necessidades de promovermos um ciclo, qualquer que ele seja. Sem isso, nunca seremos felizes

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