domingo, 31 de maio de 2009

Olhar ou ver?

Ouro Preto é uma cidade cheia de surpresas para quem, de fato, sabe visualizar a mesma. Aqui, os verbos olhar e ver são muito importantes caso alguém queira reter imagens que podem render bônus diversos ou fornecer dados para se escrever uma crônica, um poema, uma pintura ou qualquer manifestação de arte e/ou literatura.

Nesse último carnaval, exatamente na segunda-feira, saí com minha insubstituível companheira, a saber, a câmera digital para captar o que quase ninguém consegue após a noite de domingo na cidade das repúblicas estudantis em festa. Logo no início da minha deliciosa caminhada, detectei uma cena que, com certeza, não deve ser vista em qualquer lugar do Brasil: jovens do nordeste do Brasil lavavam suas roupas numa fonte de água límpida, água vinda de uma mina, em pleno coração da cidade. Riam sem parar e para elas, era uma experiência totalmente nova encontrar água potável com tanta fartura e poder higienizar as roupas sem censura em via pública. O povo da cidade atravessa a rodovia e naturalmente bebe água ali. Então, vendo as moças no local, todos passavam e não se importavam com elas. Parei, pensei e pedi licença para as mesmas e consegui excelentes fotos em que uma delas lavava a calça jeans e a outra um abadá e uma roupa íntima. Elas me pediram para que eu usasse também as câmeras delas e registrasse a cena que elas entitulariam como abundância em Ouro Preto.

Continando o meu tour, vi jovens tatuados sentados nas calçadas e falando sobre Ouro Preto onde tudo, segundo eles, era muito intenso. A Praça Tiradentes, que é do povo e para o povo, estava toda gradeada para evitar trânsito que quase não existe no período de carnaval. Subindo a ladeira, deparei-me com uma goiabeira cujos frutos maduros se davam para qualquer um que os quisesse. Consegui aproximadamente 85 fotos únicas, com certeza, mas foi exatamente a última e bem próxima da minha casa, já na volta da caminhada, que mais me surpreendeu. Um carro alegórico da escola de samba local trazia um dragão negro com asas vermelhas e imensos chifres. Entre ruas estreitas e ladeiras intransoníveis, o carnavalesco optou por um estacionamento no supermercado local. Detalhe: ao lado do estacionamento, há uma igreja evangélica, a saber, Igreja Universal do Reino de Deus. E não é que o dragão, visto de perfil, ficava exatamente abaixo da palavra DEUS formando uma imagem atípica, engraçada e bastante filosófica? Lá dentro, o pastor exortava contra os males do carnaval, quando o diabo andava solto pelas ruas mas sequer imaginava que a minha câmera guardou para sempre a idéia de um demônio na lateral da igreja, soberbo, poderoso e inocente. Mostrei a imagem para algumas pessoas que ali se encontrvam e ninguém havia detectado esses ricos detalhes.

Inspirei-me, então, na montagem dessa crõnica sobre a importância do verbo ver, com toda a sua conjectura. Aprendi há muitos anos que nossos olhos nos iludem muitas vezes e isso é totalmente real. Fotografando Ouro Preto há aproximadamente cinco anos, tenho em meus arquivos fotografias que são uma verdadeira fonte de pesquisa sobre a grande diferença entre os verbos aqui tratados. Vem à minha mente um ditado que a minha avó me dizia quando criança: o que os olhos não veem, o coração não sente. Meu coração sente...