quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

contaminação midiática

Embora eu estude jornalismo e ame o que eu faço, atualmente ando preocupada com a falta de ética na mídia, principalmente a televisiva. Quando vejo programas de TV onde a violência se transforma em pauta principal e o jornalista/repórter incita pessoas à prática de justiça com as próprias mãos, me sinto atingida. Faz apenas alguns dias e a mídia revelou a história de uma auxiliar de enfermagem que, por acidente, segundo o próprio hospital, cortou a ponta do dedo mindinho de uma criança de apenas um ano de idade. Sei que o assunto é sério mas a mídia responsável ouviria dos dois lados. Fiquei diante do aparelho por mais de três horas e só ouvi o jornalista expor a opinião dele e incitando o telespectador, excitado pelo emocional do apresentador, a praticar a violência contra o hospital: quebrar tudo, matar quem fere minha filha, destruir com quem destrói a vida por acidente. Fiquei aterrada pois todos nós somos capazes de sermos contaminados pelo poder midiático. Se confio demasiadamente em jornalistas que incitam pessoas a praticarem atos negativos, sinto que também posso praticá-los. Há muitos exemplos disso hoje na TV do Brasil. Quando se dá muita importância para um sequestrador e a todo momento ele aparece na telinha fazendo exigências e pedindo a mídia que intervenha, na busca do furo o jornalista veicula a fama dos bandidos. Em seguida, novos eventos ocorrem seguindo o mesmo padrão do evento anunciado em demasia. Para fim ilustrativo, peguemos o exemplo do sequestro em São Bernardo do Campo onde a refém foi morta pelo sequestrador. Logo em seguida, pelo menos cinco homens mataram namoradas, noivas e esposas mesmo diante das câmeras de segurança dos locais onde elas trabalhavam. Efeito da contaminação midiática. O número de estupros, mortes de pais, envolvimento com homofobia e outros crimes evidenciados na TV cresce a cada dia. Depois vemos o bandido entrando em aviáo ( e o pobre que nunca viajará de aviáo pode ter uma sinistra ideia de como conseguir uma), sendo acompanhado por um séquito de policiais, sendo entrevistado por renomados jornalistas e tendo sua fotografia em todos os jornais. Concordo que se o fato é noticiável, não deve ser negligenciado. Mas basta falar e colocar o crítico apontando as causas sociais do evento e acabar com a ladainha.
No caso do corte de dedo da criancinha, até hoje não ouvi nenhuma empresa jornalística apresentar a contraparte da história. Continuo esperando.