quarta-feira, 13 de agosto de 2008

ciclos

CICLOS

Vejo, com certo prazer, folhas secas de abacateiros e araticuns na calçada. Piso nelas com a intenção de ouvir o som único e intraduzível da metamorfose das folhas em fragmentos de vida que se incorporarão ao solo. Uma palavra surge na minha mente: ciclos. O que seríamos sem os ciclos todos que cerceiam nossas vidas?
Tal como aquelas folhas mortas, sentimentos nascem, crescem, amadurecem e morrem. Alguns, mesmo que mortos, permanecem nas lembranças de quem os viveu. O poeta grava na memória o cair lento das folhas quando o vento decide, mesmo sob a tênue forma de brisa, transformar a morte em ballet de folhas amareladas.
Nossas realizações pessoais também possuem ciclos. Do sonho surge o projeto e do projeto nascem as realizações. Só é necessário possuir tenacidade para esperar o tempo certo para a coisa certa.
Se alguém me questionasse sobre qual seria a tristeza mais pungente que afetaria meu espírito, eis a resposta pronta: ver ciclos incompletos, sonhos não realizados, projetos apenas no papel, colares desfeitos ao longo dos caminhos.
Se nascemos, vamos morrer, isso é certo. Se as forças poderosas nos permitem projetar sonhos é porque, em algum tempo e espaço, a realização vai ser completa. Fechemos as figuras geométricas. Tudo que tem começo, obrigatoriamente precisa ter fim. Todas as nossas angústias nascem de abortos abruptos de nossas íntimas necessidades de promovermos um ciclo, qualquer que ele seja. Sem isso, nunca seremos felizes

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

ORATÓRIO DE AGOSTO

"De: Estado de Minas, Coração de Mãe, por Déa Januzzi"
Copiado Literalmente da coluna do Jornal Estado de Minas, 10.08.2008

O vento e as sombras de domingo fazem questão de me lembrar que o mês de agosto chegou, mas, para que ele não dure mais do que os 31 dias do calendário, pedirei emprestado ao leitor Pedro Marzagão seu ORATÓRIO DE AGOSTO, texto que me enviou para aliviar todas as incertezas, dissabores e presságios dessa época, que parece não ter fim. Para enterrar de vez o pessimismo de agosto, ele escreveu:
" Hoje, eu quero a raosa mais linda que houver. Para lembrar Dolores Duran, cujo nome rima com flores, vou antecipar a primavera e florir agosto, que muitos pensam ser de tragédias, de superstições, de desgosto.
Vou florir passeios, pintar calçadas, clarear as fachadas, encantar o rosto de quem anda absorto, atolado em sofrimento, duelando com o vento. Vou trazer flores de maio, da canção bonita, margaridas e girassóis, abrigo e prosperidade. Vou plantar aquela planta, mas de tal forma planejada que suas pétalas, ao serem desfolhadas nas brincadeiras infantis, outra terminação não tenaham ( e vale até uma trapaça) de qualquer modo que se faça, contra o mal que se fizer, seja sempre o bem-me-quer.
Espécie de Burle marx desvairado, vou florir desertos e transformar a areia, de estéril matéria fria, numa inesgotável fonte de energia, e espalhar oásis em terras áridas, ressuscitar as fadas, vestir de branco as mulheres, e nos homens todos, prisioneiros da nostalgia, hei de plantar a poesia, para que cantem com alegria, nas noites claras de luar, para a rosa mais linda que houverm para a primeira estrela que brilhar. Com Fernando Pessoa, hei de olhar para um lado e para o outro, para frente e para trás, e aquilo que verei será sempre aquilo que eu nunca tenha visto, e saberei, então, agradecer à natureza.
Na companhia de Cecília Meirelles, deixarei que meus dedos corram pelos versos, antes tristes, agora libertos e conectados à terra, de onde tudo vem e para onde tudo volta, e, com toda certeza, hei de colher encanto, para que a minha voz, antes agressiva, se revista de um suave canto. Como se não bastasse, vou convocar todos os poetas e também alguns profetas, para que poetizem nas madrugadas poemas de textura enluarada, e deles farei sementes para plantar nos corações, pois se os insensíveis arrancam as árvores do chão, um poema guardado no peito, ah, isso eles não arrancam não!
Depois da missão cumprida. armaremos uma grande mesa, farta de pão, vinho e poesia, para nutrir os irmãos, da mais sagrada ceia, recompensa mais do que justa que o corpo tanto anseia. E para que a alma encontre amparo, contra a angústia, o medo, a solidão, hei de clamar aos poetas um poema único, escrito a uma só mão, para que, abençoado, se transforme numa única e universal oração!"
Comentários da Autora, na mesma coluna:
Para enterrar de vez os maus presságios de agosto, queria lembrar que os leoninos, que são muitos, inclusive amigos chegados, festejam o mês com todo o esplendor do Sol que rege o signo. Para quem nasce sobre o signo de Leão, é tempo de comemorar - e não de ter medo. Mas se os ventis soprarem ao contrário e, em agosto, por acaso, ocorrer o que você não deseja, não ponha a culpa no mês, que se repete a cada ano, pois, também se morre em maio ou em setembro.
Também se adoece em outubro ou mesmo em dezembro. Em agosto, também, você pode amar como nunca ou se apaixonar perdidamente, Em agosto também a gente pode ser feliz! A partir de agora fica decretado que agosto terá o mesmo peso de dezembro, quando as pessoas estão mais generosas e a alma leve para compartilhar com o outro. Mas, até em dezembro, aluém é pregado na cruz. E o calvário se repete a cada ano, para lembrar que é preciso renascer, mesmo com as marcas e a dor de cada dia.
Revogam-se, portanto, as tragédias - e que personagens de agosto sejam apenas lembranças de que poderiam ter partido em outros meses de ano. Ave, Getúlio Vargas e sua carta-suicida, que fez de agosto um mês gelado. Ave, maiacovsky, que em agosto viveu seus piores dias.
Livrai-nos dos maus pensamentos de agosto, das notícias ruins, porque quero paz neste mês. que o cheiro de manjericão que vem do canteiro ao lado, afagando o paladar, despertando a fome insaciável de viver.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

ADTEMPO

Adtempo

Sempre gostei da palavra "advento", que me soa muito bem como " expectativa de véspera". Há 46 anos, minha mãe vivia o advento de meu parto. Fico imaginando o que ela sentia com aquela imensa barriga de seu primeiro bebê.
Hoje, vivo um "adtempo", neologismo criado por mim, significando " expectativa de véspera de que chegue o tempo de eu ser feliz dentro dos meus objetivos profissionais".
Estou em véspera de meu aniversário mas também há muito para se terminar ou se começar. Meus ciclos precisam se fechar e eu vou renascer, após o adtempo terminar